domingo, 11 de dezembro de 2011

Esse texto faz parte do meu livro Confidências Radiofônicas de Um Povo Sem Voz . Foi escrito há muito tempo (só atualize a quantidade de anos).

PARABÉNS PRA MIM

Hoje, doze de dezembro, eu poderia relatar a história de qualquer pessoa neste espaço mas, decidi contar um aniversário marcante para mim. Há exatos 27 anos eu fazia 15. Foi inesquecível. Não me esqueço daquela festa. Todos os anos, na mesma data, eu me recordo da minha festa de 15 anos. Recordo hoje com bom humor. Mas, aquele dia, foi de lascar.

Foi horrível! Não ganhei uma festa de debutante tradicional. Até porque eu queria mesmo era viajar. Dar a volta ao mundo em 80 dias, como Júlio Verne. Festa, para mim, seria ir para qualquer cidade descrita nos romances de Sidney Sheldon. Não ganhei a viagem e nem a festa tradicional.

Meu aniversário foi maravilhoso. Para os convidados. Para mim, trabalhoso. Se não bastasse ter sido trabalhoso, também, foi demorado. Durou três dias. Os convidados, dos meus pais, chegaram na sexta e só foram embora no domingo à noite. Teve gente que só saiu na segunda pela manhã.

Imagine um monte de gente hospedada na sua casa e você tendo que se desdobrar para fazer comida, bolos e doces para todo mundo por três dias! Ainda bem que nossa casa, lá no ramal Novo Horizonte no Projeto Pedro Peixoto, era grande. Colchões e redes não faltavam. Nem comida, nem bebida.

Matamos várias galinhas, patos e porcos. Era galinha cozida, assada, guisada, sarapatel, molho pardo, bolos, doce de leite, doce de abóbora, doce de casca de melancia, cervejas, vinhos, sucos, cachaça no abacaxi. Uma loucura. Panelas sujas, fogão e forno à lenha, carvão até por dentro dos olhos. Quase não consegui sair da beira do jirau para colocar meu vestido novo branco.

O vestido era bonito mas, minha mãe cismou que eu teria que colocar um enfeite branco nos cabelos. Na realidade era uma grinalda improvisada. Feia. Brega demais para o meu gosto. Infelizmente eu não me “governava” e tive que aparecer com a grinalda na cabeça e os olhos cheios de lágrimas. Estava arrasada. Me sentia ridícula com aquele negócio me coroando.

Tudo bem. O melhor estava por vir. Meu pai havia me prometido uma moto de aniversário e eu estava ansiosa. Pensei que ele estivesse me preparando uma surpresa pois, até aquele momento, não havia sinal da moto. Não quis falar da moto na frente das pessoas e cochichei no ouvido do meu pai: “E a minha moto?”.

Muito gentil, meu pai saiu me levando para o quintal e olhando para o céu, onde uma linda lua cheia se desenhava, me falou, respirando fundo, que não tinha comprado a bendita moto. Comprou um aparelho de som Gradiente 3 em 1. Argumentou que não era falta de dinheiro, era medo de que eu me machucasse. Minha mãe havia dito que se ele me desse uma moto, ele estaria me dando a morte. Ele acabou com um sonho que ele próprio sustentava desde que eu tinha 12 anos!

Nada do que eu imaginava aconteceu na minha festa de 15 anos.

Ainda bem.

Se eu tivesse usado um vestido escolhido por mim, sem grinalda, viajado ou ganhado a moto, talvez não tivesse prometido a mim mesma e à lua, naquela noite, que viajaria o mundo por conta própria, teria a moto e o carro que quisesse e, em minhas festas, receberia apenas os amigos que EU fizesse.

Ainda bem que já cumpri a minha promessa.

Parabéns pra mim!

Eliane Sinhasique

Jornalista/Radialista