sábado, 23 de maio de 2009

O abuso também é feminino

Artigo publicado no jornal A Gazeta dia 22/05/2009

Nos últimos dias muito se tem falando sobre a questão do abuso sexual contra crianças e adolescentes. Sobre esse assunto eu penso que as disputas entre as próprias mulheres nos transformam nos seres humanos mais frágeis existentes na face da terra.
Culturalmente ou egoistamente falando, a mulher é inimiga da mulher, isso claro, generalizando.
A história e as pesquisas antropológicas revelam esse dado cruel. Nós precisamos rever nossos conceitos. Mulher precisa apoiar mulher.
A mãe disputa com a filha, ainda criança, o carinho e atenção do pai/marido. Quando a filha cresce a mãe disputa com a filha adulta os olhares masculinos. Tem mãe que até continua se vestindo como uma menininha adolescente e freqüenta os mesmos lugares que a filha. Essa disputa pode até ser inconsciente mas, acontece.
A esposa disputa o marido com a amante. A funcionária disputa com outra os elogios do chefe e por causa disso trabalha feito jumento para ser a mais elogiada.
No caso específico do abuso sexual, a maior queixa das meninas abusadas é justamente que as mães, as mantenedoras, não acreditam nelas.
Instintivamente, por já saberem que serão desacreditadas pela pessoa que seria o seu anjo da guarda, as meninas abusadas, se calam. Silenciosamente sofrem o abuso sem ter coragem de reagir porque sozinhas não conseguem provar o abuso que sofrem.
Conheço menina que foi expulsa de casa porque reclamou para a mãe que o padrasto a abraçou de forma diferente. Além de ter que sair de casa, essa menina foi chamada de mentirosa pela própria mãe.
Conheço meninas que foram colocadas, pela mãe, cara a cara com seus agressores para “provarem” que estavam sendo bolinadas e, dessa forma, os agressores, que são adultos e cheios de artimanhas, humilharam e ainda castigaram as meninas por estarem levantando “falso”.
Mulheres acusam as outras mulheres de serem interesseiras, de usarem suas pernas grossas para subir de cargo, acusam de dissimuladas, de fofoqueiras, criticam e quando podem humilham e denigrem a imagem da outra mulher como se isso fosse fazê-las superiores às outras.
Grande idiotice!
Enquanto nós mulheres não nos conscientizarmos de que padecemos dos mesmos dramas e privilégios, inerentes ao sexo feminino, seremos frágeis nas mãos de nossos algozes que tão bem sabem manipular nossa disputa contra nós mesmas.
Mulheres menstruam, sentem cólicas, sentem medo, dor de parto, dor de depilação, dor de amor e desamor. Mulheres num momento são endeusadas e num outro odiadas pelos mesmos homens. O que é que nos faz ser inimigas das nossas semelhantes???
Vejam os homens. Eles se protegem, não se denigrem, se colocam no lugar do outro e até mentem para proteger a “raça”.
Para combater o abuso sexual há que se rever o comportamento feminino para com o seu próprio gênero. Enquanto as mulheres não acreditarem nelas mesmas, continuaremos a ser estupradas, abusadas e bolinadas com a conivência ou com a inércia das próprias mulheres.
Infelizmente.


Artigo publicado no jornal A Gazeta dia 22/05/2009
sinhasique13@gmail.com